segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Teoria Literaria - Romance


Aristóteles foi o primeiro a dividir os chamados gêneros literários. Nesse ponto encontra-se a nevralgia das discordâncias com seu mestre, Platão. Tudo ocorre devido ao ponto de vista acerca do principio da mimeses, cuja origem etimológica grega expõe a imitação ou representação.

Basicamente, o discípulo de Sócrates, em seu Livro III da República considerava a realidade vista pelo homem como uma cópia da realidade, pois na verdade, tudo o que se dispõe é apenas cópia da perfeição (Real,Verdade, Bem). Sendo assim, os textos literários, seriam cópias da cópia. Aristóteles queima uma etapa. O que nós vemos é propriamente a realidade, digerindo uma diegesis, ou seja, a capacidade do leitor/expectador compartilhar emoções e sentimentos com o autor/artista.

O fundador da escola peripatética inicia então os estudos mais aprofundados sobre os gêneros literários, dividindo-os em épico, dramático e lírico, sendo o gênero dramático uma variante do épico. Enquanto as epopéias contavam histórias de grandes feitos e heróis em um mundo maravilhoso, as narrativas concentravam-se nos episódios da vida comum dos indivíduos e seus próprios desafios.

A narração é constituída de quatro elementos: enredo ou trama ou intriga (como os fatos aconteceram, as situações, as experiências, que por sua vez se dividirão em inicio, quebra da situação inicial, conflito, clímax e epílogo), lugar (espaço narrativo que pode ser tanto material quanto psicológico), tempo (cronológico ou variável de momentos imprecisos) e personagens (protagonistas, antagonistas e personagens secundários). Conforme a maneira como a historia é contada, o narrador poderá se apresentar em primeira (narrador personagem) ou em terceira pessoa (narrador observador)

O romance é a narração de uma historia imaginária, mas conservada pela verossimilhança, cujas ações narradas servirão a um propósito, que se revelará no fim do livro.  Tornou-se a mais popular das formas literárias no século XVIII, mas surge como herdeira da epopéia já entre os séculos XVI e XVII. Abandonando os versos metrificados e os galantes personagens cavalariços ou aristocratas guerreiros da Idade Média, adota uma linguagem coloquial para contar os relatos, sem regras fixas, cujos personagens centrais são homens comuns vivendo dramas corriqueiros, como desilusões amorosas, problemas financeiros, etc.

Sem a roupagem da perfeita moral dos caveleiros medievais, o personagem passa a um campo mais complexo, já que deseja alcançar a perfeição, mas encontra um campo hostil(realidade exterior), que dificulta sua existência (conflito interior). Nesse contexto, o homem se vê possibilitado de mudar a realidade de acordo com suas convicções, mesmo que na maioria das vezes, encontra frustrações.

“O romance é a epopéia de um mundo sem deuses”, diria Hegel. A narrativa do homem comum apresenta o homem como o único responsável por sua alegria e tristeza, sorte ou infortúnio. Em Werther de Goethe, romance escrito no formato de cartas, percebemos claramente o pensamento daquele que iria influenciar primeiramente Schopenhauer para enfim alcançar seu ápice em Nietzsche. Nas primeiras cartas do livro, encontramos um narrador extasiado de felicidade (ilusória) por estar abandonando uma cidade opressora para passar uns tempos viajando pelo campo. Então o protagonista passa a descrever sua visão de perfeição da natureza. Porém, uma desilusão amorosa o destrói, de tal maneira que não lhe resta alternativa que não seja sucumbir. Goethe revela um aristocrata com um código de conduta extremamente apurado, mas sentimentalmente conflitante. Não há espaço para triunfos heróico-revolucionários e ninguém saberia o tamanho do Sofrimento do jovem Werther se Goethe não tivesse contado. Um personagem comum, com problemas comuns e responsável por sua existência.

Fazendo uso desse aspecto, o romance apresenta sua verossimilhança. O leitor vê no espelho do livro, um reflexo da realidade.

Já em tempos mais modernos, as alegorias e os simbolismos utilizados por Franz Kafka ou pelo realismo mágico de Gabriel Garcia Marquez mudaram um pouco o cenário. São apresentados ao leitor de maneira real, mesmo que aprioristicamente inverossímeis, situações exageradas, mas que comungam, em algum lugar (distante ou não) com o real.

Nenhum comentário:

Postar um comentário